Qual será a energia dos data centers?

Cerca de 64% da geração incremental para atender data centers deve vir de combustíveis fósseis até 2035, prevê relatório

Nayara Machado

NESTA EDIÇÃO. BNEF aponta que expansão da demanda por eletricidade para data centers pode prolongar vida útil de usinas fósseis.

Cerca de 362 GW devem ser instalados nos próximos dez anos, sendo mais da metade renováveis e armazenamento. Mas na geração de energia, a balança se inverte.

A demanda incremental por eletricidade proveniente de data centers deve saltar para 1.200 terawatts-hora (TWh) globalmente até 2035 e 3.700 TWh até 2050, estima o New Energy Outlook 2025 publicado pela BloombergNEF nesta terça (15/4).
 
É um volume significativo: 4,5% da demanda final de energia projetada em 2035 e 8,7% em 2050 – maior do que a carga de ar-condicionado e bombas de calor, que chega a 7,1% em 2050.
 
Para dar conta desse consumo acelerado de eletricidade em meio à crescente digitalização da economia – e o avanço das aplicações de inteligência artificial – cerca de 362 gigawatts (GW) precisarão ser instalados nos próximos dez anos.
 
De onde virá essa carga? O cenário conservador da BNEF (chamado transição econômica) indica uma dobradinha renovável e fóssil.
 
Embora as estimativas de consumo para data centers sejam um tanto incertas, os analistas apontam que energias renováveis ​​(47%) e armazenamento (9%) juntos devem representar mais da metade da capacidade necessária, mas o restante (44%) é de origem fóssil. 
 
No entanto, quando se trata de geração de energia, a balança se inverte. No total, 64% da geração incremental para atender à demanda de data centers provém de combustíveis fósseis e 36% de energias renováveis, alerta o relatório.
 
“Esta última descoberta parece contradizer a sabedoria popular atual do setor, que coloca a energia solar e eólica no topo da lista na construção de nova capacidade de energia para atender à demanda de data centers, em parte devido a um acúmulo na disponibilidade de turbinas a gás”, diz. 
 
“Nossa modelagem corrobora a forte justificativa para a construção de energias renováveis ​​e armazenamento para alimentar data centers, mas também destaca a possibilidade de que a demanda adicional por data centers possa ajudar a prolongar a vida útil das usinas a carvão e a gás existentes”, completa.
 
Segundo as projeções, a maior parte da capacidade incremental de carvão e um terço da capacidade a gás associada à demanda de data centers provém de usinas existentes que evitam ou adiam a desativação.

Impacto climático

Em 2022, os data centers consumiram 460 TWh – equivalente ao consumo de 42 milhões de residências nos EUA por um ano.
 
Se, por um lado, a eficiência energética tem ajudado a moderar o crescimento do consumo de eletricidade desses centros (hoje em torno de 1-1,5% da demanda global), por outro, o setor já responde por 1% das emissões de gases de efeito estufa relacionadas à energia, com cerca de 330 milhões de toneladas de CO2 equivalente emitidas em 2020.
 
Esse volume precisa cair pela metade até 2030, para alinhar com o objetivo de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100 – o que será difícil de alcançar com mais energia fóssil alimentando nosso consumo de dados.
 
Governos ao redor do mundo estão apertando as regras para a construção dos centros, com receio dos impactos sobre as redes elétricas e também sobre as metas climáticas nacionais.
 
Irlanda, Alemanha, Cingapura e China, bem como regiões dos EUA e Amsterdã, nos Países Baixos, introduziram restrições sobre novos centros de dados nos últimos anos para cumprir requisitos ambientais mais rigorosos. (Financial Times)
 
Nos EUA de Donald Trump, no entanto, a trajetória passou a apontar para o carvão.
 
Na semana passada, o presidente republicano assinou uma série de medidas, que segundo ele, visam expandir a mineração e o uso de carvão nos EUA para acelerar o boom de data centers. Grandes consumidores de energia, esses centros de dados podem reavivar a decadente indústria de combustíveis fósseis dos EUA. (Bloomberg)

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