Avanço das fontes variáveis, que dependem de fatores climáticos para gerar energia, traz o desafio de oferecer flexibilidade e armazenamento ao setor elétrico
Por Roberto Rockmann — Para o Valor, de São Paulo : https://valor.globo.com/publicacoes/especiais/cop29/noticia/2024/12/04/renovaveis-tendem-a-ganhar-impulso-com-usinas-solares-e-eolicas.ghtml
Implementar projetos de energia limpa tem sido uma tendência crescente entre economias desenvolvidas e emergentes, com investimentos globais anuais de US$ 2 trilhões, o dobro do que está sendo aplicado em combustíveis fósseis, segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), que ainda estima que a participação de projetos renováveis na matriz elétrica mundial deverá subir de 30%, em 2023, para 46%, em 2030, com grande acréscimo de usinas solares e eólicas.
O avanço das fontes variáveis, como usinas solares e eólicas, que dependem de fatores climáticos para gerar energia, traz também o desafio de oferecer flexibilidade e armazenamento ao setor elétrico.“O recurso escasso não é mais energia, e sim flexibilidade ou potência”, diz Edvaldo Santana, ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
A matriz elétrica brasileira tem mais de 80% de energia oriunda de fontes renováveis, como hidrelétricas, eólicas e solares. As hidrelétricas construídas nas últimas duas décadas passaram a ser feitas sem reservatório de armazenamento de água. Isso coincidiu com a revolução das energias eólica e solar, que hoje respondem por cerca de 30% da eletricidade do país.
Nesse cenário, ganha importância a flexibilidade de operação, ou seja, a capacidade de compensar desequilíbrios entre geração e carga, como quando o sol deixa de brilhar no meio da tarde. O sistema elétrico precisa operar com uma capacidade instalada maior do que a necessária para atendimento do consumo médio por energia. EEssa reserva de potência (uma folga para ser usada em momentos de pico) cria a necessidade de precificar atributos.
“O setor elétrico brasileiro precisará de um sistema de precificação mais aderente à realidade da operação, assim como se preparar para os impactos das mudanças climáticas”, afirma o presidente da PSR, Luiz Barroso.
Para o consultor Luiz Maurer, a flexibilidade no setor elétrico é um conceito que deve ser reforçado e visto como prioritário, até como forma de se reduzir investimentos futuros em transmissão de energia elétrica. “Com flexibilidade local, se pode dimensionar a expansão da transmissão de forma mais racional e sem tanta redundância, sendo que essa expansão tem seus custos socializados e não tem um fator locacional”, afirma.
Segundo dados da consultoria Ember (2024), o país é líder em renovabilidade na matriz elétrica entre as 20 maiores economias do mundo, com 89% da eletricidade oriunda de fontes renováveis. O percentual é o triplo da média global, segundo a IEA. No mundo, cerca de 40% dos US$ 2 trilhões investidos em energia limpa têm sido aportados pela China. O país asiático respondeu por 60% do acréscimo de energia renovável no mundo em 2023 e sua geração de energia solar deverá superar em 2030 a demanda total de eletricidade atual dos Estados Unidos, conforme a IEA.
O contexto geopolítico atual, de maior instabilidade internacional e de um eventual protecionismo comercial, aponta algumas incertezas sobre a velocidade do crescimento das fontes renováveis no mundo. A China detém mais de 60% da produção de cadeias da área solar, eólica e de baterias. Mas um provável aumento de tarifas sobre veículos elétricos ou baterias nos EUA, sob o governo de Donald Trump, assim com as guerras entre Rússia e Ucrânia e Israel e Hamas, podem comprometer o orçamento de países europeus empenhados na transição energética.
Em paralelo, a maior empresa de baterias da Europa, a sueca Northvolt, entrou em falência nos EUA em um momento em que a União Europeia discute reduzir a participação chinesa no mercado de energia renovável e de veículos elétricos. O bloco europeu quer banir a venda de carros movidos a combustíveis fósseis em 2035. Um em dez veículos elétricos. O bloco europeu quer banir a venda de carros movidos a combustíveis fósseis em 2035. Um em dez veículos elétricos vendidos na Europa vem da China, uma fatia que poderá aumentar com a BYD e a Chery investindo em fábricas de baterias no continente.